Com bondade, misericórdia e perdão, ele acolhe sempre de novo o filho pródigo.
J. Kentenich
Mãos paternais
Ir. M. Nurit. A imagem deste cartão – um detalhe da estátua do P. José Kentenich que se encontra em frente à Casa P. Kentenich, em Schoenstatt – expressa algo essencial da misericórdia de Deus Pai. Se a pessoa se solta de suas cálidas mãos, do abrigo de seu amor paternal, ele a deixa partir. Misericórdia não força sua felicidade, ela deixa partir, quem quer ir embora. Na parábola do filho pródigo, o filho mais novo quer sair de casa: “Dá-me a parte da herança que me pertence” (Lc 15,12b). Provavelmente não houve uma discussão com o Pai. Ele quer simplesmente gozar sua vida, sua herança.
O pai deixa o filho ir embora, mas suas mãos paternais permanecem estendidas. A misericórdia do pai não é um sentimento momentâneo, que se transforma em rejeição com o comportamento falho. Ela é o mais profundo de seu ser, sempre atuante. As mãos paternais permanecem abertas, seu olhar acompanha o filho. Seu coração de pai se preocupa com ele, não por causa do dinheiro que vai desperdiçar, mas por causa dele, pois permanece seu filho, mesmo como adulto que segue seus próprios caminhos.
Chegou ao ponto zero da miséria
O filho, em sua fome de liberdade, se torna desenfreado e acaba com seus bens (cf. Lc 15, 12b). No início, o barulho do novo é tão alto, que ele não percebe que está perdendo tudo aquilo que lhe dava segurança. Por fim, chega ao zero. Fica sem nada, não tem o mínimo para a sua existência, não pode nem mesmo se alimentar com o resto de comida que é jogada aos porcos. Mas a pobreza material não é a pior; a pobreza espiritual é muito maior e mais dolorida. De repente ele não se sente mais como filho, mas como mendigo; não se sente mais abrigado no amor do pai, mas como um caniço agitado pelo vento. O amor do pai o procura também agora – justamente agora. A dedicação misericordiosa do pai é inquebrantável. Mas ela não o alcança, pois o filho já não pode acreditar que alguém – justamente o pai a quem ele prejudicou – ainda possa amá-lo.
Não é esta também sempre de novo a nossa situação? Nós vivemos na casa do Pai do céu; pelo batismo, tornamo-nos seus filhos muito amados. Participamos de sua riqueza. Quando nos distanciamos dele, cometemos pecado, acumulamos culpa sobre nós, assemelhamo-nos ao filho mais novo, que sai de casa e desperdiça toda a sua herança. Faltas inofensivas vão se acumulando. Podem acontecer também grandes pecados que nos afligem espiritualmente. Nós temos vergonha de nós mesmos, não conseguimos nos perdoar – e pensamos que Deus também não é capaz de nos perdoar.
Muitas vezes o resultado é que fugimos de uma situação e caímos em outra. Com isso fugimos de nós mesmos. Padre Kentenich descreve este processo para as famílias, nos Estados Unidos, assim:
“Entrar rápido no carro e sair para algum lugar no campo! Buscar alguma coisa diferente, outra recordação e outra influência e, então, fim! Não, nós devemos poder estar uma vez sozinhos para que possamos sentir as agulhadas da consciência. Vejam, isto é progresso, isto significa que a vida interior se desperta. Então dizer silenciosamente ao bom Deus: eu sou uma pobre criatura, eu não posso mais, eu quero, mas não consigo!” (13.8.1956)
Assim eu sou
Quando não sabia mais como seguir, se diz do filho mais novo: “Então ele caiu em si” (Lc 15,17). Aqui começa a sua volta para a misericórdia do Pai. Ele decide, então, dizer tudo ao Pai e aceitar as devidas consequências. Ele abusou de seus direitos de filho. Mas talvez o pai tenha compaixão dele e o deixe trabalhar como servo.
Também para nós, a salvação do pecado e da culpa começa quando reconhecemos sinceramente nossos erros e confessamos: assim eu sou, desperdicei minha “herança” – minhas possibilidades para o bem. O sacramento da confissão é o lugar onde sempre de novo podemos voltar para o amor salvífico do Pai.
O inconcebível amor do Pai
A volta para o Pai não deve ter sido fácil para o filho mais novo. “Eu não sou digno de ser teu filho” (Lc 15,18). Este é o seu sentimento vital: eu sou indigno, sem valor, sem utilidade. Não ser mais seu filho significa: ter perdido as próprias raízes, não pertencer mais a ninguém e a nenhum lugar. E então vem o inconcebível: antes que o filho veja o pai, este já o tinha descoberto – de longe ele o vê chegando (cf. Lc 15,20). Suas mãos estão estendidas para o filho; elas estavam sempre assim, mas ele não veio antes. Agora o pai pode abraçá-lo. O filho experimenta uma profundidade no amor que antes, nos “tempos normais”, não havia percebido: “busquem depressa a melhor túnica, coloquem-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés. Preparem o novilho cevado” (Lc 15,22 s). Uma ação cheia de simbolismo: “a melhor túnica” - ele é preferido; o anel – símbolo da pertença, é aceito como filho; as sandálias – símbolo da aceitação e da proteção. E, finalmente, o novilho cevado – ele é presenteado de maneira efusiva, saciado com tudo o que se possa pensar.
O pai prepara uma alegre festa, pois a herança perdida não é importante, nem mesmo as ações desenfreadas, com as quais o filho acabou com o dinheiro. Importante é somente que o seu filho voltou, este filho que ele nunca demitiu de seu amor.
Esta festa pode também ser vivenciada por pessoas que caíram em pecados graves. Deus é o todo misericordioso que nos “busca do abismo, com amor”. Assim se expressou um senhor de 43 anos que estava preso por causa de um assassinato. Por meio de uma experiência pessoal com Deus ele, que em toda a sua vida só experimentara rejeição, encontrou a fé. Quando ele, mais tarde, pela primeira vez, pode sair da prisão por algumas horas, vai a uma igreja para agradecer a Deus diante do Santíssimo Sacramento. Ali se torna claro para ele: tanto faz se estou na prisão ou aqui... é indiferente se você vive no depósito de lixo ou no Hotel Hilton, se você tiver Deus no coração... este é o centro... Quão grande é o seu amor!... O amor entre os seres humanos é apenas um pálido reflexo do amor de Deus. Ele quer simplesmente amar-nos, buscando-nos da beira do abismo onde estamos.”
Sempre de novo, sempre mais profundamente
Sempre de novo, nós nos distanciamos de Deus, pois somos fracos e muitas vezes não conseguimos perseverar no bem que queremos fazer. Decisivo não é a frequência de nossos erros e pecados. Padre Kentenich acentua: decisivo é que o caminho de volta ao coração do Pai se torne sempre mais curto, que reconheçamos sempre mais rapidamente nossas faltas. Então vivenciamos que o mundo da misericórdia se abre para nós de modo mais rico, que ultrapassa todo o entendimento. Se nós não nos voltamos para o Pai, nossa vida vai também sempre mais para baixo – sempre mais para o fundo, caímos em nós mesmos e perdemos o sentido para a nossa dignidade.
Aqueles que puderam vivenciar o Pe. Kentenich em vida, tiveram uma ideia de como deve ser infinitamente grande a misericórdia do Pai eterno; se até mesmo os seres humanos podem ser tão bondosos. Estas pessoas contam que quando confessavam seus erros, pecados e até pecados graves, saíam da presença dele muito melhores. Por sua bondade, ele despertava tudo o que havia de nobre e bom dentro do coração. Sem intenção alguma, ele podia ser bondoso e fazer o bem, assim que estas pessoas tinham uma ideia da misericórdia de Deus Pai.
Vamos aproveitar o tempo da Quaresma para algumas “reviravoltas”, onde nos afastamos do amor. Então também experimentaremos algo da felicidade que o filho mais novo experimentou nos braços de seu pai. Neste Ano Santo da Misericórdia, o Sacramento da Confissão é uma oferta muito especial.